MPT-MT celebra o Mês da Mulher com ciclo de palestras

04.04.2024 O Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso (MPT-MT) promoveu, na manhã do dia 21 de março, ciclo de palestras em alusão ao Dia Internacional da Mulher. O evento teve início às 8h e foi realizado no auditório da Procuradoria Regional do Trabalho da 23ª Região (PRT23), em Cuiabá, com transmissão ao vivo por videoconferência para as Procuradorias do Trabalho nos Munícipios (PTMs), e encerramento com café da manhã fornecido pelo Sindicato Nacional dos(as) servidores(as) do Ministério Público da União (SindMPU).

Estiveram presentes as palestrantes Mory Márcia de Oliveira Lobo e Nara Assis dos Santos; o procurador-chefe do MPT-MT, Danilo Nunes Vasconcelos; membros(as), servidores(as), terceirizados(as), estagiários(as) do órgão e comunidade.

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MPT-MT celebra o Mês da Mulher com ciclo de palestras
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Vasconcelos abriu o evento compartilhando aprendizado sobre o relevante papel da mulher na etnia indígena Warao, de origem venezuelana, em atual situação de vulnerabilidade na capital. “Aprendi como são avançados em relação à questão de gênero. Um antropólogo da Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) explicou que, na etnia Warao, tudo gira em torno da sogra, figura mais importante de cada grupo familiar”, declarou o procurador-chefe do MPT-MT.

Raça, gênero e autocuidado no contexto feminino

Na sequência, Mory Márcia de Oliveira Lobo, doutora em Educação e pesquisadora participante do Laboratório de Estudos em Tecnologia, Comunicação e Educação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), abordou os desafios e potenciais na integração de raça, gênero e autocuidado no contexto feminino. Dissertou acerca da ideologia do branqueamento, em que se busca adequar a padrões aceitos pela sociedade via assimilação de “valores brancos”, na contramão das origens étnico-raciais. Enfatizou, ainda, que o problema do racismo é enfrentado desde a primeira infância e pode ser encarado como uma “argamassa”.

MPT-MT celebra o Mês da Mulher com ciclo de palestras
MPT-MT celebra o Mês da Mulher com ciclo de palestras

A especialista expôs as consequências psicológicas da ideologia do branqueamento e relatou experiências vividas nos âmbitos profissional e pessoal. “Três elementos são de suma importância para compreender a formação do pensamento racial no Brasil: o Brasil da eugenia, a ideologia do branqueamento e a falsa democracia racial”, disse Lobo, que ainda destacou: “Colocando mais tinta nessa ideologia do branqueamento, nós teríamos a obsessão pela pele clara, mas vou dizer para vocês, isso acontece no plano inconsciente. Eu não acredito que a pessoa racista tenha essa maldade no coração dela”.

A palestrante trouxe conceitos de estudos interseccionais da pesquisadora americana de teoria crítica da raça Kimberlé Williams Crenshaw, os quais verificam como as estruturas de poder se articulam para colocar mulheres e suas múltiplas realidades em situação de desvantagem mediante o racismo constitutivo, sistêmico e institucional. “A hierarquia das cores determina quem merece ou não ser amada. A chamada ‘mulata’ é para sexo; a de pele tinta, mais escura, essa cozinha, faz serviço subalterno, tem salário baixo, sofre humilhações; e o altar é para a branca”, disse Lobo, que, ao fim da apresentação, deixou sugestões de leitura, como o “Documento para o Encontro de Especialistas em Aspectos da Discriminação Racial Relativos a Gênero”, de Crenshaw, e a obra “Interseccionalidade”, da escritora brasileira Carla Akotirene.

Foi aberto, em seguida, espaço para participação dos(as) presentes. A assessora jurídica do MPT-MT Jessica Karen Rheinner Faleiro expressou sua admiração pela palestra e ressaltou o quanto essa "argamassa", como Lobo mencionou, está profundamente enraizada na sociedade. Finalizou com um convite: “Que todos façam uma reflexão. Que essa palestra não fique só no campo da teoria, mas que venha para a prática do dia a dia”.

Para a servidora Lígia Valéria Martins Gomes, compreender as dificuldades enfrentadas por uma mulher negra pressupõe conviver com outras mulheres negras. Ela observou que, ao conviver com mulheres brancas e negras, a mulher branca tende a receber mais cuidados, enquanto a mulher negra é vista como mais resiliente. “A diferença é absurda! A dor da mulher negra é frequentemente minimizada!”

A servidora Marilene Guimarães de Jesus de Souza compartilhou que a liberdade de seu bisavô foi conquistada graças à Lei do Ventre Livre, legislação imperial que determinava que, a partir de 28 de setembro de 1871, as mulheres escravizadas teriam filhos livres. Ela mencionou que seu neto enfrentou preconceito após ser aprovado em uma prestigiada instituição pública, com insinuações de que foi admitido somente devido às cotas para negros. Souza afirmou: “Eu aconselhei meu neto a estudar, a mostrar sua capacidade e a provar que conseguiu por mérito próprio”.

A servidora Keila Rodrigues do Prado mencionou a leitura de livros acerca dos temas em questão, mencionando a professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Angélica Lovatto. Ao abordar a desigualdade de gênero, Prado observou: “Quando um homem diz algo, é frequentemente aceito como verdadeiro, sem a necessidade de ouvir a perspectiva da mulher”.

Michele Marta Moraes Castro, doutoranda em inteligência artificial (IA), comentou a tendência dos aplicativos em gerar imagens que seguem padrões estéticos eurocêntricos e estereotipados que refletem preconceitos e desigualdades existentes na sociedade. “Isso evidencia a necessidade urgente de promover uma maior diversidade e inclusão no desenvolvimento dessas tecnologias, garantindo que elas sejam mais representativas e equitativas. A conscientização sobre essas questões é fundamental para avançarmos em direção a uma IA mais justa e inclusiva”, frisou.

Mensagem

Após as intervenções, foi apresentado vídeo com mensagem da procuradora do Trabalho Deisiane Christmas Santos Leão Machado da Costa, em que evidencia a importância de todas as mulheres na construção do sucesso da Regional, enfatizando que cada uma, independentemente da função que desempenha, contribui significativamente para o funcionamento e eficiência da instituição. “Nós, mulheres, desempenhamos múltiplas funções, e, não raro, de forma concomitante. Obrigada e parabéns a cada de vocês que, em conjunto, formam o sucesso da PRT23”.

Carga mental

A segunda palestra do evento foi conduzida por Nara Assis dos Santos, mestranda em Comunicação pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e integrante do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Política e Cidadania (CICLO) e do projeto de extensão Pauta Gênero, ambos da UFMT.

MPT-MT celebra o Mês da Mulher com ciclo de palestras
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Santos compartilhou com os(as) presentes estudo realizado pela Think Olga, organização não governamental (ONG) que utiliza a comunicação como ferramenta para sensibilizar a sociedade sobre questões de gênero e suas intersecções. O estudo buscou demonstrar quais aspectos da vida têm causado sofrimento e insatisfação às mulheres brasileiras e como elas têm cuidado de sua saúde mental.

Os resultados são alarmantes: quase metade (45%) das entrevistadas relatou ter sido diagnosticada com ansiedade, depressão ou outro transtorno mental. Além disso, foram identificados outros sintomas como estresse, irritabilidade, baixa autoestima, fadiga, sonolência, insônia e tristeza.

Esses dados destacam a necessidade urgente de abordar e enfrentar os desafios relacionados à saúde mental das mulheres no Brasil. É crucial que sejam implementadas políticas públicas e iniciativas efetivas para apoiar e promover a saúde mental feminina, além de criar espaços de diálogo e conscientização sobre a importância do bem-estar psicológico. A divulgação e análise dessas informações são fundamentais para sensibilizar a sociedade e mobilizar esforços em prol da saúde mental das mulheres.

A mestranda destacou que as mulheres enfrentaram um estado de esgotamento em 2020, passando por uma das piores crises do século. Mesmo com o término desse período crítico, o esgotamento persiste em 2024. Ela enfatizou a sobrecarga feminina, afirmando: “Estamos todos cansados, mas o cansaço sentido pelas mulheres é frequentemente ampliado devido ao acúmulo de responsabilidades que temos”.

Santos explicou que a pesquisa entrevistou 1.078 mulheres com mais de 18 anos, de diversas classes sociais e regiões do Brasil. As entrevistas foram realizadas online entre os dias 12 e 26 de maio de 2023. Os resultados apontaram que a situação financeira e a conciliação entre diferentes áreas da vida são os principais fatores de insatisfação entre as entrevistadas. A palestrante, por fim, deixou uma mensagem para todos(as): “Exaustão não é só sobrecarga, também é falta de combustível, de se abastecer do que faz você se sentir vivo!”

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